CAMPINA GRANDE abre mão da autenticidade e transforma SÃO JOÃO em festa ‘hit parade’

Trio de Forró. Ilustração reproduzida da internet/Bruno Gonçalves – https://bruno3d.artstation.com/

Augusto Magalhães

Hoje é 1º de junho, dia de abertura do “Maior São João do Mundo” em Campina Grande, na Paraíba. A data deveria ser motivo de orgulho para todos os paraibanos, mas não é. Não para todos!

Campina Grande, a cerca de 120 quilômetros da Capital, João Pessoa,  continua matando o São João. O que Campina faz todos os anos no mês de junho é um grande Festival de Música ‘hit parade’ e está longe de ser uma festa de São João.

Um festival, aliás, que poderia ser realizado em qualquer mês do ano, menos no mês de junho, tradicionalmente dedicado à maior festa popular do Nordeste: o São João.

O Rio de Janeiro fez o Rock in Rio e ganhou o mundo, mas em fevereiro, meu bem, o Rio é do Carnaval. Da mesma forma que o Sambódromo é do Samba, o Parque do Povo (maior símbolo do São João de Campina) deveria ser do forró – e do mais autêntico forró. É isso que o turista quer ver no Nordeste e, particularmente, nas festas juninas da Paraíba.

Campina poderia atrair outra leva de turistas (se é essa a intenção) criando o CAMPINA FEST – O FESTIVAL DE MÚSICA DE CAMPINA GRANDE! Ou ainda o CAMPINA SERTANEJA – O MAIOR ENCONTRO DE MÚSICA SERTANEJA DO MUNDO! Seria um grande evento a ser realizado no mês de outubro, por exemplo.

Se Pernambuco é do frevo, a Bahia é do Axé, o Rio de Janeiro é do Samba, o Amazonas é do Boi, então por que a Paraíba não pode ser do Forró? O que falta à Paraíba é IDENTIDADE.

Não sou empresário, nem ocupo cargo de importância no Governo, mas fica a dica para quem tem poderes e deve exercê-los em benefício do povo e da cultura paraibana.

Ao zapear as redes sociais me deparo com uma postagem do querido amigo Ivaldo Gomes no Facebook, dando conta de que “Em Caruaru a ficha caiu!”

O professor Ivaldo é um dos  grandes defensores da cultura, do meio-ambiente e do respeito ao próximo. Hoje ele toca num assunto que há muito vem me incomodando: o que estão fazendo com o São João de Campina Grande?

Obrigado, Ivaldo, por me inspirar a escrever sobre isso. Fui mais além e encontrei a publicação original, que é de Armando José Lima, defensor da cultura de Caruaru e que trabalha no CTCC – Centro de Tradições Culturais de Caruaru. (Veja a publicação no final dessa matéria).

Inspirado no vizinho pernambucano, passei a me questionar e pedir uma explicação do Poder Público da Paraíba: Como é que nós, paraibanos, temos nas mãos uma grande manifestação popular, autêntica, nossa, do nosso povo, e conseguimos destruir tudo isso?

Campina “arrota” os 30 dias de festa até na trilha sonora do “Maior São João do Mundo”, mas joga pelo ralo o que mais importa: o forró.

Que festa é essa que Campina está fazendo? Isso não é São João, mas uma festa como outra qualquer, em que se contratam os artistas do momento, os que estão na crista da onda – não necessariamente os melhores, mas os que mais tocam nas rádios e aparecem na TV – para animar um público enlouquecido por dancinhas e sedentos por selfies com astros e estrelas do momento.

A Paraíba e o Nordeste possuem grandes artistas que ralam diuturnamente para fazer suas  músicas chegarem ao público. Músicos autênticos com suas safonas, zabumbas e triângulos e cantores esperando uma oportunidade de subir ao palco com uma estrutura, ao menos parecida, com a do Maior São João do Mundo.

São cantores e cantoras consagrados ou iniciantes de todos os Estados do Nordeste que, com certeza, fariam uma grande festa em Campina Grande durante os 30 dias de junho.

Cantorias, repentistas, sanfoneiros, forrozeiros, bailarinos, atores e atrizes, todos do Nordeste fazendo uma festa autêntica e mostrando o Nordeste para o mundo. Isso sim traria o olhar do turista para a cultura nordestina e não os mesmos shows que o Sul, o Sudeste, o Norte e o Centro-Oeste já  estão cansados de assistir e não tem novidade nenhuma. Só badalação!

Campina, não ignore a tua cultura! Não faz isso com uma festa tão linda, que começou 40 anos atrás em barracas de palha e nem imaginava que chegaria tão longe. Uma festa autêntica, nascida em Campina Grande e que está morrendo em Campina Grande!

Naõ faz isso, Campina, com os artistas do Nordeste, com o povo paraibano, pernambucano ,cearense, alagoano, baiano, sergipano, potiguar, piauiense e maranhense.

Faz 30 dias de festa, mas faz com forró,  xote, xaxado e baião. Seja fiel pelo menos à letra da tua música, essa mesma que embala a propaganda do “Maior São João do Mundo”. Se cumprir o que diz a letra já tem pronto o MAIOR SÃO JOÃO DO MUNDO! E para turista nenhum botar defeito!

VEJA ESSA POSTAGEM SOBRE CARAURU

Quando um turista vai assistir os desfiles do carnaval no Rio de Janeiro, ele espera assistir shows de samba.

Quando um turista vai para Barretos em São Paulo, ele espera assistir os peões, seus cavalos e shows com artistas da música sertaneja.

Quando um turista vai o Rio Grande do Sul, ele espera conhecer a cultura gaúcha, seus costumes e tradições;

Quando turista vai visitar o Oktuberfest em Santa Catarina, ele vai para conhecer a cultura germânica e tomar muita cerveja.

Então por quê quando um turista vem visitar Caruaru no período junino, uma cidade no agreste pernambucano, querem mostrar a cultura e a música de outros estados a ele?

*Reprodução de postagem de Arnaldo José Lima no Facebook ‘Caruaru Terra de Oportunidades”