TEATRO EDNALDO DO EGYPTO: vão esperar fechar pra reclamar depois?

Fachada do Teatro Ednaldo do Egypto, que fica no bairro de Manaíra, em João Pessoa. Foto: Reprodução/Internet

Augusto Magalhães

Já se tornou público que a Prefeitura de João Pessoa pagou 1 milhão de Reais para que a cidade fosse o samba-enredo da escola de samba Dragões da Real, de São Paulo, no carnaval 2023. Um samba-enredo muito bonito, um desfile deslumbrante e a escola figurou entre as cinco melhores do carnaval paulista. Foi tudo ótimo!

Nesta segunda-feira, 27, o prefeito Cícero Lucena anunciou que a cidade vai ter Paixão de Cristo este ano e que a encenação vai ser no Parque da Lagoa. Se vem artista da Globo, não se sabe ainda. Quanto vai ser investido também não sabemos até agora.

O fato é que entra carnaval, sai carnaval; entra Paixão, sai Paixão e o impasse do Teatro Ednaldo do Egypto não se resolve. Não seria melhor investir esse dinheiro adquirindo um bem que vai servir à Prefeitura e à população para o resto da vida?

Me refiro ao Teatro Ednaldo do Egypto, que atualmente é alugado à Prefeitura, mas que o proprietário já colocou à venda. Um teatro que já se incorporou ao cotidiano da cidade, servindo sobretudo aos alunos da rede municipal e aos moradores do Bairro São José, além de ter criado laços afetivos com o bairro de Manaíra.

Não sei quanto custa o teatro ou quanto o proprietário e herdeiro de Ednaldo, Fabiano do Egypto, está pedindo por ele, mas a Prefeitura Municipal de João Pessoa – seja através da Secretaria da Educação e Cultura; seja através da Fundação Cultural de João Pessoa (Funjope) – ou juntando os dois órgãos – precisa entrar em negociação e digo mais: precisa comprar esse teatro.

Não é possível que a Prefeitura vá assistir de camarote o teatro ser fechado ou ser vendido para uma construtora, ou ainda que ele tenha seu palco transformado em púlpito de uma igreja qualquer.

Deixar o Teatro Ednaldo do Egypto ser vendido é um crime!

Minha gente, já fiz essa pergunta uma vez e vou fazer de novo: onde estão os artistas dessa cidade? Pelo amor de Deus, vão esperar que o teatro seja vendido para reclamar depois? Alguém mais da minha geração é capaz de lembrar o esforço que o saudoso Ednaldo fez para erguer aquele teatro?

Sinto muito, caros colegas, quanta passividade! Se atores, diretores e técnicos que são as pessoas que usam o teatro para realizar seus ofícios, não são capazes de se levantar, quem será capaz? O público? O motorista do ônibus? A merendeira da escola? Quem?

É preciso e urgente que a classe artística prove ao prefeito e seus assessores, diretores, secretrários e a quem mais for de direito, que o Teatro Ednaldo do Egypto não pode virar pó de tijolos e ferros retorcidos em cima de uma caçamba. Vou ter que recorrer a uma fala da Paixão de Cristo: “O TEMPO URGE, HERODES!”

Ao proprietário do teatro, a Secretária da Educação e Cultura do município teria dito que a Prefeitura está construindo um teatro no Complexo Educacional de Mangabeira e, por isso, não teria interesse pelo Teatro Ednaldo. Eu peço, encarecidamente, à secretaria América que reveja essa posição. Uma coisa não tem nada a ver com a outra.

Desde quando a construção de um teatro tem que vir condicionada à derrubada de outro? Isso não é justificativa. E o público infantil que frequenta o Teatro Ednaldo em Manaíra? E os alunos do Bairro São José que frequentam o Teatro Ednaldo em Manaíra?

Fabiano do Egypto continua esperando uma resposta da Prefeitura e o tempo vai passando, as festas vão acontecendo, dinheiro vai sendo investido em eventos e o que há de concreto vai ficando para trás.

É incansável o trabalho dia e noite que a gestora, atriz e diretora Letícia Rodrigues vem realizando para evitar a venda do teatro. Desde que assumiu a direção do Ednaldo, ela não deixou um fim-de-semana sequer o teatro sem espetáculo. Agora no carnaval, trouxe para a frente do teatro um bloco infantil e chamou as crianças do São José para interagir com essa festa tão grandiosa e apreciada pela sociedade brasileira.

O teatro Ednaldo do Egypto não é só parede, palco, coxias, camarins e plateia. Ele tem uma função social. Essa função está sendo muito bem executada pela diretora Letícia Rodrigues e demais artistas que hoje frequentam o teatro. Não deixem isso morrer!

Ainda que nenhum dos meus argumentos seja suficiente, só a preservação da Memória de Ednaldo já seria o bastante para a Prefeitura de João Pessoa decidir comprar o teatro e afastar de vez o fantasma de sua venda para uma construtora ou para uma igreja.

E aí, Prefeitura? O tempo urge!