PORTUGAL espera por GISBERTA, o espetáculo!

Leticia Rodrigues busca patrocínio para levar o espetáculo “Gisberta” para Portugal. Fotos e vídeo: Divulgação

Augusto Magalhães

Letícia vai a Portugal e leva Gisberta consigo. Sim, Letícia Rodrigues, atriz paraibana, vai levar seu monólogo GISBERTA – BASTA UM NOME PARA LEMBRARMOS DE UM ÓDIO – a Portugal, país no qual a mulher trans brasileira Gisberta Salce Junior foi cruelmente assassinada e, por conta desse fato, foi criado um movimento em defesa dos direitos humanos naquele país.

A data da apresentação está sendo fechada por Letícia Rodrigues em interação com Keyla Brasil, ativista, produtora cultural e atriz transexual de Portugal. “Será agora no segundo semestre e o espetáculo Gisberta será apresentado junto com uma montagem realizada por Keyla Brasil. Vai ser uma espécie de festival da Gis em Portugal”, comemora Letícia.

A atriz comemora, mas nem tanto assim, pois uma nova etapa dessa jornada começa agora: o espetáculo precisa de patrocínio para chegar a Portugal, como também precisa para chegar a Ibiúna (SP), pois acaba de receber a notícia que foi selecionado para participar do Festival de Teatro daquele município.

“Fomos selecionados também com Gisberta para o festival em Ibiúna que acontecerá em setembro. Faremos uma turnê Brasil-Portugal a partir de Setembro”, diz, confiante, Letícia Rodrigues. Contatos com a atriz podem ser feitos através do whatsapp: (83) 98625-5220.

Gisberta (E) e Letícia

Assim como Gisberta, Letícia também é uma mulher trans. Ela mora em João Pessoa, estado da Paraíba, no Nordeste do Brasil. Sua luta é tão intensa e significativa quanto foi a de Gisberta Salce Junior. Letícia Rodrigues enfrenta preconceitos, mas não foge à luta. Tornou-se a primeira mulher trans paraibana a ser gestora de um teatro. Paralelo ao trabalho de gestão, ela continua em cena, seja dirigindo ou atuando em espetáculos que têm levado público e lotado o Teatro Ednaldo do Egypto, no bairro de Manaíra, em João Pessoa.

Gisberta morava em São Paulo, mas saiu do Brasil para fugir do preconceito e em Portugal foi assassinada justamente por preconceito. É sobre isso que vamos falar. Letícia transportou a história triste de Gisberta em um belíssimo espetáculo teatral, que tem direção de Misael Batista.

PARA VER GISBERTA

Para quem ainda não teve a oportunidade de assistir, Gisberta está em cartaz nesta quarta e quinta-feira (12 e 13 de julho), às 20h00, no Teatro Ednaldo do Egypto. Os ingressos custam R$ 20 e podem ser adquiridos através do Pix: 83986255220.

Um detalhe: Pessoas Travestis e Transsexuais terão a “Transfree” e não pagam ingresso. “Leva uma amiga ou amigo Trans para o Teatro Ednaldo do Egypto. Teatro é Cultura e ao vivo”, convoca Letícia Rodrigues.

O QUE VI NO PALCO

Assisti “Gisberta” no teatro Ednaldo do Egypto, em João Pessoa. O que impressiona é que Letícia não se vale da aparência física com Gisberta Salce Junior,  que conquistou durante o processo de preparação para o espetáculo. Para além disso, ela conquista o público com sua força interpretativa e sua presença cênica.

 A atriz canta em cena e leva a plateia junto, mas no contraponto, também faz o público respirar fundo e “engolir seco” as barbaridades vivenciadas por Gisberta em seu calvário. Em cena, Letícia é Gisberta, disso não tenho a menor dúvida!

O espetáculo tem essa “pegada” de fazer a público viajar no tempo e se sentir no ambiente em que Gisberta foi encontrada morta. A atuação de Letícia Rodrigues é impecável, ao viver e reviver momentos tão difíceis e intragáveis.

A atriz se coloca na posição em que o corpo foi encontrado, desenhado no chão com um giz e o ambiente cercado por fitas de isolamento. Um ambiente triste, a partir do qual Letícia revive a trajetória de Gisberta Salce Junior, desde a sua descoberta enquanto menino que se sentia menina até a mudança de nome de Gisberto para Gisberta.

Para não se prostituir, Gisberta vai fazer shows em boates e esse é um dos momentos mais bonitos do espetáculo, em que a atriz Letícia Rodrigues sobe ao ponto mais alto da caixa cênica e faz a dublagem – como Gisberta fazia em seus shows – da música “Hoje eu vou mudar”, na voz de Vanusa. Com exceção desse momento, toda a trilha sonora do espetáculo é feita ao vivo, evidenciando mais uma habilidade da atriz Letícia Rodrigues, que surpreende também como cantora.

No mais, é bom lembrar que o espetáculo começa antes mesmo do público chegar ao teatro. Todo o corredor que dá acesso à plateia, ainda no ambiente externo do teatro, está cercado por fitas de isolamento em amarelo e preto, manchas de tinta vermelha no chão simulando sangue e uma placa na parece que identifica: Rua Gisberta Salce Junior.

A direção de Misael Batista e a iluminação se completam na atmosfera do espetáculo, tanto que quando Letícia estava em cena no Teatro Ednaldo do Egypto, em João Pessoa, a luz fez projetar misteriosamente – ou não – na fumaça da cena o rosto de uma mulher. Algo impressionante, que se mistura com a verdade cênica de Letícia Rodrigues.

Letícia Rodrigues em cena e placa cenográfica de Rua com o nome de Gisberta no corredor de acesso ao Teatro Ednaldo do Egypto, em João Pessoa