LETÍCIA RODRIGUES se transforma para viver GISBERTA no palco

Atriz Letícia Rodrigues está em processo de produção do novo espetáculo com estreia prevista para janeiro. Fotos: Divulgação

Augusto Magalhães

Nesta terça-feira, 27 de dezembro, é o aniversário da atriz, diretora e gestora cultural Letícia Rodrigues. Como ela costuma fazer todos os anos, seu dia será no teatro e, dessa vez, no palco ensaiando o novo espetáculo que estreia em janeiro. Quer presente melhor?

A revelação foi da própria atriz ao ser perguntada sobre as novidades para 2023. Letícia está sendo dirigida pelo grande ator e diretor Misael Batista numa grande produção intitulada “Gisberta”. A estreia será no dia 27 de janeiro e o espetáculo será apresentado nos dias 27, 28 e 29, às 20h00, no Teatro Ednaldo do Egypto, em João Pessoa.

A montagem do espetáculo tem o apio da Secretaria de Estado da Mulher e da Diversidade Humana (SEMDH), Associação das Pessoas Travestis e Transexuais da Paraíba (ASPTTRANS) e da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis, Transexuais, e Intersexos (ABGLT).

Emocionada ao falar sobre a personagem, Letícia Rodrigues dispara: “É um momento muito desafiador. Estou realmente me transformando para viver Gisberta no palco. Ela é incrível e teve uma história incrível. Foi a voz de muitas outras mulheres trans que também foram assassinadas como ela. Por ser uma mulher trans eu sinto na pele os preconceitos que essa mulher sofreu e talvez por isso seja tão difícil e ainda mais desafiador colocar tudo isso no palco. Gisberta vive e está aqui em todas nós que lutamos no dia-a-dia dessa sociedade ainda preconceituosa e cheia de barreiras”, disse.

Para o diretor Misael Batista também é um grande desafio, mesmo com larga experiência na direção de biografias. “Apesar de já ter escrito e dirigido várias biografias, Gisberta passa ser a mais desafiante. Ela é porta-voz do grito desumano. Veio do avesso para se tornar história de transformação conforme sugere o próprio prefixo trans. É a representação das minorias despertada por uma sociedade hipócrita. É de muita responsabilidade trazer essa voz que tentou ser calada por uma inquisição contemporânea tão em moda no momento. E que não foi só assassinada, foi sacrificada”, disse Misael.

Ele continuou falando sobre Gisberta e acrescentou: “Geralmente os assassinos, nessas situações , divertem-se enquanto matam para representar o pensamento novo que nasce do velho. Gisberta é a nossa expectativa. Precisamos mostrá-la, não apenas porque tenha se tornado um nome de rua, mas para eternizá-la da rua para o mundo. Em corpo de atriz e alma de esperança. E que o espetáculo nos aponte uma resposta, para que essa representação seja voz e eco para todas as minorias e importante para reduzir mais sacrifícios. Gisberta é ícone e que jamais morrerá”, concluiu.

Outros integrantes da Companhia falaram sobre a expectativa da montagem. “A expectativa para Gis, é que a sua história mais uma vez contada não seja simplesmente assistida, mas sentida por todes”, disse Robson Oliveira, que está na técina do espetáculo.

Outro depoimento foi o de Romilson Rodrigues, que faz a caracterização e maquiagem de Gisberta. “Amo desafios. Estar no elenco dessa obra como caracterizador desta grande atriz Letícia Rodrigues sempre é um enorme prazer. Para quem não conhece a vida da GIS, tá chegando o dia.. onde iremos nos emocionar”, garante.

“Uma estreia que promete um turbilhão de emoções e sensações e que vai quebrar vários tabus. Vocês irão saber. O nome dela e quem é ela: A GIS”, completa Gustavo Niquell, que também compõe a ficha técnica de Gisberta.

“Trazer a história de Gisberta em um momento tão emblemático para população de pessoas travestis e transexuais que estão conquistando direitos básicos como acesso a educação, saúde, segurança pública e moradia traz uma reflexão de que nossos corpos foram talhados de tantas negativas, mas mesmo assim seguimos resistindo sem lamentos e lamúrias tentando viver felizes, apesar dos pesares”, concluiu Andreina Gama, presidenta da ASPTTRANS – Associação de pessoas travestis e transexuais da Paraíba.

QUEM FOI GISBERTA

Gisberta Salce Junior foi uma mulher trans brasileira, encontrada morta na cidade do Porto, em Portugal. Ela saiu do Brasil aos 18 anos para fugir de uma “onda” de homicídios contra transexuais em São Paulo. Após passar dois anos na França, ela se mudou para Portugal assim que completou 20.

Em 2006, o nome de Gisberta estamparia os noticiários por um motivo chocante e triste. A brasileira foi encontrada morta em um poço no Porto, após ser agredida e violada por um grupo de 14 adolescente, entre os 12 e 16 anos. A autópsia confirmou lesões na cabeça, pescoço, membros inferiores e superiores, laringe e traqueia, abdómen, intestinos e rins; múltiplas equimoses, infiltrações hemorrágicas, escoriações e infiltrações sanguíneas. Esse se tornaria então o crime de transfobia mais bárbaro da história do Porto.

Poucos meses depois, surgiu a Marcha do Orgulho do Porto, equivalente à Parada LGBTQIA+ que conhecemos no Brasil e que acontece todos os anos. Em julho daquele ano, no contexto da morte de Gisberta, se realizou a primeira Marcha em um local próximo de onde ela foi encontrada sem vida.