Jornalista: voz da comunidade que ecoa no Palácio

Augusto Magalhães

Apurar fatos, conversar, rabiscar, anotar…transmitir. Em linhas gerais, esse roteiro parece simples se seguido como uma receita de bolo ou algo parecido, mas o trabalho do jornalista vai mais além. Hoje, 7 de abril é Dia do Jornalista!

Para falar ou escrever sobre o Dia do Jornalista é necessário, primeiro, destacar a importância desse profissional para a sociedade. Você que é jornalista já parou para pensar quantas pessoas irão ler o que você escreve ou assistir ao que você expõe na televisão? Já se deu conta da importância do que você diz e como isso vai se multiplicar, sendo replicado, encaminhado e até modificado de leitor para leitor, de telespectador para telespectador, de inernauta para internauta?

Esse questionamento serve para lembrarmos o quanto somos importantes, não pelo fato de sermos jornalistas, cujo diploma nem mais exigido como requisito indispensável, mas por estarmos na ponta da informação, por sermos o elo entre a sociedade e poder estabelecido.

Somos nós, jornalistas, que ouvimos a reivindicação dos trabalhadores, quando cobrimos situações de greve na educação ou na saúde, por exemplo, e que a levamos aos ocupantes do poder, questionando sobre a solução que será apresentada a esses trabalhadores. Da mesma forma, as manchetes dos jornais no dia seguinte ou o imediatismo dos sites de notícias trazem o que o Poder Público tem a dizer para esses trabalhadores.

Jornalistas na redação do “Correio da Paraíba”, início dos anos 90, quando as máquinas de escrever foram substituídas pelos computadores. Foto: arquivo pessoal

O jornal impresso cumpriu esse papel durante muito tempo, sendo aguardado ansiosamente nas primeiras horas do dia, com a notícia esperada milhares de trabalhadores, que dependiam de uma posição a respeito de suas reivindicações. Estou me referindo à classe trabalhadora e suas reivindicações apenas como a ilustração que me ocorreu no momento para citar a importância do jornalista nesse processo e, mais que isso, a importância de uma apuração séria dos fatos e sua capacidade de síntese e transmissão dessa notícia.

Da mesma forma e, talvez, até mais importante ainda, está o jornalismo comunitário ou a Comunicação Comunitária, que é feita a partir da participação da comunidade nesse processo. Um jornalismo onde a própria comunidade participa e é estimulada a expor os seus problemas através de informativos, boletins, jornais impressos, vídeos e pela internet.

O jornalista novamente assume o papel de concatenar e organizar as idéias e deixar mais claro e objetivo para a sociedade o que realmente essa comunidade está enfrentando. Notícias que trazem à tona problemas como a falta de saneamento básico, o posto de saúde que não funciona e denúncias as mais diversas possíveis dão visibilidade aos problemas comunitários e muitas vezes ajudam a resolvê-los.

Foto: reprodução da internet

Não é o papel de salvador da pátria que deve ser assumido pelo jornalista, mas daquele que vai até o problema, chega junto da comunidade e expõe suas feridas para o poder. As aberrações encontradas em muitas comunidades pela falta de estrutura e de compromisso público são tão gritantes que, muitas vezes, chocam a sociedade.

Por vergonha ou medo do “linchamento eleitoral”, os governantes acabam por voltar seu olhar para o problema, mas só depois de sua exposição pela imprensa, seja ela no jornal escrito, na televisão, no rádio ou na internet.

O presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais da Paraíba, Land Seixas, resumiu bem sobre o papel do jornalismo comunitário para a sociedade. “A gente sabe que a imprensa oficial não atinge como nós desejamos a ação dentro das comunidades. Se não houver um grupo de pessoas que se mobilize dentro das comunidades, esse trabalho jornalístico não chega onde deveria chegar. Por isso é importante a participação da comunidade nesse processo do fazer jornalístico. É fundamental a comunicação comunitária para a sobrevivência do próprio jornalismo”, disse.

Land Seixas ainda destacou que não há nada mais importante do que levar jornalismo sério para as comunidades. O jornalismo comunitário é um trabalho lindo! É um trabalho muito importante porque as empresas de comunicação não fazem isso, ou fazem muito pouco.

“O jornalismo comunitário faz com que a comunidade revele seus problemas para o mundo. Os jornais comunitários eram mais frequentes no passado, mas infelizmente estão desaparecendo, são poucas as comunidades que resistem, que têm um canal de informação para reclamar, reivindicar e mostrar os seus problemas. Temos que valorizar esse trabalho e quero aqui parabenizar a todos que dão vez e voz às comunidades”, concluiu.

Augusto Magalhães em entrevista com a trans Sheila Matarazzo, no Pavilhão do Chá, em João Pessoa, para a BafafaTV em novembro de 2020. Foto: arquivo pessoal